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“A maioria dos pais castiga porque é mais fácil e por não conhecer alternativas”

Um pai, uma paixão, uma missão.

Nuno Martins tinha um sonho, que se tornou numa missão: ajudar os pais e educadores no difícil desafio de Educar, dando-lhes “ferramentas” práticas para ensinarem as crianças de hoje a tornarem-se em adultos mais felizes amanhã.

Pai de duas crianças, de 7 e 3 anos, e formador em Disciplina Positiva (certificado pela Positive Discipline Association, EUA), lançou a Academia Educar pela Positiva, que se baseia nos princípios e técnicas da Disciplina Positiva, modelo educativo que o tem ajudado a melhorar a comunicação com os filhos.

“Talvez não possa mudar o mundo, mas acredito que posso tocar cada família. Uma de cada vez”, afirma emocionado. Este é o mote deste projeto de intervenção pedagógica, que o autor começou a partilhar de norte a sul do país, através de workshops e outras formações e ações de sensibilização.

Em entrevista, Nuno Martins fala do impacto que a Disciplina Positiva pode ter na educação das crianças e deixa algumas dicas úteis para pais e educadores.


Como define a Disciplina Positiva? Quais são os seus princípio básicos?

A Disciplina Positiva – ou “educação positiva”, como prefiro chamar-lhe, porque retira a carga negativa normalmente associada à palavra “disciplina” – é um modelo educativo que ajuda pais e educadores a compreenderem melhor as crianças. E a melhorarem a comunicação/relação com elas. Assenta no princípio de que é possível educar com base no respeito mútuo, atuando em todas as situações com firmeza e amabilidade ao mesmo tempo. Ensina aqueles que têm a enorme responsabilidade de educar a agirem em vez de reagirem, a procurarem soluções positivas em vez de punirem, a focarem-se nas razões por detrás do comportamento em vez de se focarem no comportamento em si. E a trocarem o elogio pelo estímulo, o que ajuda muito a autoestima e autonomia.


Quais são as vantagens da Disciplina Positiva para a educação e formação da personalidade das crianças? De que forma esta forma de «educar pela positiva» pode ajudar as crianças a tornarem-se adultos mais saudáveis?

Como diz Jane Nelsen, co-fundadora da Disciplina Positiva: “as crianças portam-se melhor quando se sentem melhor”. Os princípios e “ferramentas” de Disciplina Positiva têm sempre em conta a individualidade de cada uma e ensinam-lhes a tornarem-se mais responsáveis, cooperantes, respeitosas, autónomas e, consequentemente, mais felizes. No fundo, ajudam os mais novos a resolverem os desafios com que se deparam, ao mesmo tempo que lhes ensinam importantes habilidades sociais e de vida, que lhes permitirão tornar-se em adultos capazes e bem integrados na sociedade.


Quais são as desvantagens e os riscos dos métodos mais tradicionais de educação que se baseiam (como diz na sua apresentação) no autoritarismo e na permissividade?

Com as rotinas e preocupações que a maioria de nós, pais, temos, não é fácil que haja disponibilidade mental para educar, no final do dia. Há a necessidade de termos tudo sob controlo quando chegamos a casa e a tendência é para o autoritarismo, na base do “quero, posso e mando”. Até chegarmos a um ponto em que nos sentimos culpados, achamos que fomos demasiado duros e exigentes. E “saltamos” para o outro extremo, o da permissividade, fechando os olhos ao que normalmente estabelecemos como regras. Depois voltamos ao autoritarismo, quando já não suportamos ser tão permissivos, nem ver os nossos filhos serem tão insolentes. Inevitavelmente, entramos numa luta de poderes, que não tem vencedores. Só vencidos. É aqui que pode entrar a Disciplina Positiva, porque permite às famílias e aos educadores encontrarem um equilíbrio, um terreno intermédio, que não é nem punitivo nem permissivo. E que se baseia na tal ideia da firmeza e amabilidade ao mesmo tempo.


De uma forma geral, quais são as «estratégias chave» que os pais devem adotar para atuarem de uma forma positiva e efectiva na educação?

Em primeiro lugar é preciso que nos consciencializemos, enquanto pais, de que somos a principal referência dos nossos filhos. E que eles são espelhos, absorvem e reproduzem tudo o que veem e ouvem. Tendo isto presente, é necessário que sejamos coerentes. Não podemos dizer-lhes hoje uma coisa e amanhã outra. Também é preciso reservar tempo de qualidade para eles, saber escutar em vez de ouvir, dialogar, dar importância ao que pensam e sentem. Procurar a razão por detrás do comportamento, em vez de no comportamento em si. E estimular, envolvê-los nas soluções para os problemas, apelando à colaboração, no fundo fazer com que se sintam importantes, úteis. Depois é de evitar sobreprotegê-los – em minha casa, por exemplo, tento não fazer nada pelos meus filhos que eles consigam fazer por eles próprios – e não ter medo de admitirmos quando erramos, porque isso não nos fragiliza, pelo contrário, aproxima-nos e reforça a relação.

Acredita que é possível educar sem recorrer à punição ou ao castigo?

Sem dúvida! Se é fácil? Não, não é. É preciso tempo, paciência e criatividade. O que nem sempre se consegue ter. A maioria dos pais castiga porque é mais fácil e rápido “resolver” as situações assim. E também porque não conhece alternativas, agindo muitas das vezes como os seus pais agiram consigo no passado. A punição ou o castigo resultam, de facto, mas apenas no curto prazo, porque põem fim ao “mau” comportamento no imediato. Mas quais serão os resultados a longo prazo? Normalmente resultam em rebeldia ou submissão, porque a criança que é constantemente castigada não terá vontade de melhorar nem estará a desenvolver sentido de responsabilidade, mas sim medo de ser ela própria, passando a agir de forma condicionada. E, no futuro, provavelmente irá repetir aquele “mau” comportamento ou ter um outro qualquer.

De que forma podem os pais mais autoritários mudar a sua postura?

Tentando escutar mais os filhos, o que eles estão a pensar, a sentir e a decidir em relação ao futuro. Deixando de querer impor tudo e apelando à cooperação, envolvendo-os mais nas soluções, dialogando. É essencial também que os pais tenham a capacidade de se acalmarem nos momentos de conflito, para poderem depois agir em vez de reagir, sem entrarem numa luta de poderes que não leva a lado nenhum. E, claro, mostrando sempre um amor incondicional, associado à tal firmeza que também é necessária. Às vezes, o simples tom de voz com que se dizem as coisas a uma criança faz toda a diferença.



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