A cena parecia tirada de um filme. De terror. O meu filho, de 6 anos, aos gritos e a espernear na sala. Parecia possuído por um espírito maligno qualquer. Tudo por causa de um episódio de um desenho animado que ele queria ver e que eu não deixei, porque já era hora de ir dormir.
O episódio já tem algumas semanas, mas usei-o esta semana como exemplo, quando uma amiga me pediu conselhos sobre como lidar com as birras do filho, mais ou menos da mesma idade.
No momento apeteceu-me ralhar, ameaçar com um castigo se ele não parasse imediatamente com aquele comportamento. Mas, em vez disso, resolvi aplicar uma “ferramenta” que aprendi em Espanha, durante a formação que fiz para Educador de Famílias em Disciplina Positiva. E resultou.
Sair de cena… mas voltar ao assunto
Comecei por avisá-lo que eu estava a sentir-me irritado, pelo que iria sair da sala para me acalmar. E que falaríamos sobre o que aconteceu quando ambos nos acalmássemos.
Tive dúvidas sobre se resultaria. Fui até à cozinha, respirei fundo e um minuto depois estava de volta. Já não tinha vontade de o agredir verbalmente. Nem ele continuava com a birra. Sentei-me no chão à altura dele, e perguntei o que estava a sentir. E porque tinha feito aquela cena. Disse que não sabia. Tentei procurar as respostas. E encontrei-as. Disse-lhe que compreendia que se sentisse assim, mas tentei que compreendesse que já não era hora para ver bonecos. “Não achas?”, perguntei. Disse-me que sim com a cabeça, timidamente. “O que é que podemos fazer para evitar que isto se repita, filho?”, acrescentei, com a voz tranquila. “Ver os bonecos mais cedo?”, respondeu. Dei-lhe um abraço e fomos contar a história antes de dormir. E birras do género, nem vê-las desde então.
Sair de cena não é premiar!
Durante os momentos de conflito, voltamos a um estado primitivo com o nosso cérebro de réptil (e os répteis comem as suas crias!). Em que a única solução é discutir (luta de poderes) ou fugir (má comunicação).
E que tal se sairmos de cena até nos sentirmos melhor? Isto de forma a que possamos resolver o problema baseando-nos na proximidade e na confiança e não na distância e na hostilidade?
Imagino que para muitos dos pais que me estão a ler, provavelmente a maioria, é difícil imaginarem que uma solução destas resulte. “Então o meu filho está a fazer uma birra e eu vou-me embora?” Eu também achava o mesmo. Mas lá em casa resultou!
Sair de cena, mas avisando sempre que se vai fazer isso para acalmar, não é premiar ou deixar que eles “levem a melhor”. Às vezes bastam 5 segundos para nos acalmarmos e voltarmos ao nosso cérebro racional. Depois é tempo de voltar ao assunto e voltar a criar conexão, já com a cabeça mais fria. E isso faz toda a diferença.
Artigo escrito por Nuno Martins, nosso formador em Disciplina Positiva, para o site Chupeta VIP
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