“Quando saio do trabalho ainda tenho que arranjar paciência para os miúdos”. Ouvi esta frase à mesa, durante um jantar com amigos. O desabafo era de uma mãe, cansada da rotina diária casa-emprego e frustrada por não conseguir tem disponibilidade mental para os dois filhos.
Se perguntarmos aos pais sobre se os filhos são para eles a prioridade, a maioria responderá que sim. Que são a sua prioridade máxima. Só que, na prática, não é isso que acontece. Muitas vezes sem nos apercebermos, é no trabalho e nas preocupações do dia a dia que gastamos a maior parte da nossa energia. E os nossos filhos? Ficam, tantas vezes, em segundo plano. Levam com as nossas frustrações e angústias. Com o autoritarismo de quem quer ter tudo sob controle. Ou com a permissividade de quem não está para se chatear.
É possível fazer diferente?
Sim, é possível. É possível educar sem que a vergonha, os sentimentos de culpa ou a dor (física ou emocional) façam parte do léxico familiar. É possível educar pela positiva, evitando modelos extremos de controlo ou permissividade mas utilizando firmeza e amabilidade ao mesmo tempo, apelando ao respeito mútuo e à cooperação, como bases para ensinar habilidades para a vida, responsabilidade e autocontrolo.
Cabe aos pais criarem as condições para que os filhos aprendam a ser autónomos, cooperantes e responsáveis. No caso da responsabilidade, esta deve ser vista em relação direta com os privilégios de que dispõem. Sem prémios ou castigos. Caso contrário, como diz Jane Nelsen, co-fundadora da Disciplina Positiva, as crianças “não serão mais do que meros receptores, dependentes, e sentirão que a única forma de sentirem que pertencem a algo ou que são importantes para alguém é manipulando os outros”.
Dicas úteis para obter ajuda dos miúdos
Eis os 4 passos para obter a cooperação das crianças, segundo os princípios de Disciplina Positiva:
- Expressar compreensão pelos sentimentos. Escutar em vez de ouvir, mostrar que se percebe aquilo que a criança está a sentir, mesmo que não se concorde com a atuação.
- Mostrar empatia sem condenar. Não significa estar de acordo, apenas que compreende a perceção da criança. Dica: pode, por exemplo, partilhar uma situação em que se sentiu da mesma forma que o seu filho, que se identificará com ela.
- Compartilhar os seus sentimentos e perceções. Muitos pais evitam mostrar ou dizer como se sentem aos filhos, acham que isso é sinal de fragilidade. Não é. Pelo contrário, reforça a empatia e conexão. Afinal, todos somos humanos, erramos. E os erros são magníficas formas de aprender
- Convidar a criança a focar-se na solução. Pergunte-lhe se tem alguma ideia do que fazer no futuro para evitar que o problema se repita ou para melhorar/resolvê-lo. Se a criança não tem nenhuma, faça sugestões até que cheguem a um acordo, que respeite ambos.
Texto publicado no site Chupeta VIP, do qual o autor é co-fundador.
Boa tarde.
Vim parar aqui, a este sítio, quando procurava estratégias que professores e alunos possam por em pratica para melhorarem a atenção/concentração durante as aulas.
Trata-se de uma turma de (31!) adolescentes de 9º ano. São bons miúdos (e miúdas!), com imensas capacidades, mas muito críticos, tagarelas e com alguma dificuldade em cumprir com as regras da sala de aula – e que nos (aos professores) está a deixar cansados e reativos. Gostaria, enquanto diretora de turma, de poder ajudar uns e outros a entenderem-se de forma positiva, de preferência, sem mandar nenhum aluno sair da sala de aula.
Será que me pode ajudar com sugestões?
Bem-haja!
Ana Carla Ferreira
Boa noite, antes de mais muito obrigado pelo seu contacto! Uma turma com 31 alunos não deve ser fácil de gerir, independentemente da idade. Mais desafiante ainda, tratando-se de adolescentes… Nas escolas onde tem sido aplicado o modelo educativo preconizado pela Disciplina Positiva, os resultados têm sido animadores. A estratégia tem passado sobretudo por envolver os alunos nas soluções para os seus próprios problemas, chamando-os por exemplo à discussão das regras que lhes são aplicadas. A cedência de algum “poder” não fragiliza os docentes, pelo contrário, reforça a conexão/empatia professor-aluno. Isto, claro, desde que o processo de cedência de “poder” seja bem conduzido, tendo a firmeza e o respeito mútuo sempre presentes em simultâneo. As Reuniões em Sala de Aula, cuja realização costumo demonstrar nas formações que realizo nos estabelecimentos de ensino, têm sido o ambiente perfeito para a implementação deste modelo mais cooperativo, que assenta na ideia de que o aluno estará mais predisposto a cooperar se estiver envolvido no processo de criação de soluções para as questões que lhe dizem respeito. Espero ter ajudado, qualquer coisa disponha. Grato, Nuno Martins.